partiu!
but you still can find me there.
pra frente é que se anda. ou não.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
terça-feira, 27 de março de 2012
sábado, 17 de março de 2012
sobre pecados secretos e virtudes
Esta é uma história sobre a virtude da generosidade. E é também uma confissão.
Uma vez eu costurei figurinos de um espetáculo de dança junto com uma amiga. Na verdade foi um projeto a seis mãos: eu aceitei a tarefa junto com uma amiga e depois acabei arrastando outra pra ajudar na marra (mas essa terceira pessoa vai ficar pra outra história).
Era coisa amadora, poderia ser tido como nada importante, mas o fato é que era um desafio enorme dentro da micro-sociedade que nos encontrávamos. Tratava-se do show cultural de uma universidade onde nossos maridos estudavam. Era como se estivéssemos dentro de um filme sobre a experência universitária americana. The cool kids, os europeus, precisavam de alguém que idealizasse e produzisse os figurinos de dez casais que iam dançar o can can.
Foram quase dois meses de trabalho, muitos perrengues e arrependimentos, mas o resultado ficou muito, muito bonito.
No dia de estréia os "bailarinos" compraram flores e foram me entregar. Naquele tipo de gesto solene dos artistas de palco, que se reunem e entregam um buquê para a prima donna. Nunca soube direito lidar esse tipo de coisa. Nunca fui estrela, nunca fui bajulada, nunca estive sob os holofotes. Eu fiquei completamente atrapalhada, mas ao mesmo tempo devo confessar que acabei embevecida pela fama. Eram meus 15 minutos. Foto! Foto! Quando dei por mim, estava cercada pela turminha dos populares, todas as câmeras apontadas pra nós, chuvas de elogios e agradecimentos. E eu lá, aceitando os louros da glória sozinha, meio chapada de tanta vaidade.
Algum tempo depois de começada a bajulação do tapete vermelho eu cruzei com o olhar da minha amiga, co-autora da obra, que tinha ficado de fora. Ela estava ali, vendo tudo. Eu senti um misto de vergonha e pesar. Vergonha por ter me esquecido dela, e pesar porque estava muito gostoso ser a estrela única e absoluta. E vergonha de novo por me sentir tão bem com aquela vaidade toda. Logo eu, tão superior a tudo isso, deitando e rolando no meu momento de celebridade.
Me lembro de ter olhado firme pra ela e feito um gesto: vem cá! vem cá!
Mas ela não se abalou por um segundo sequer.
Sorriu, fez que não com a cabeça, me jogou um beijinho e falou:
Vai brilhar, ia. Vai brilhar!
Uma vez eu costurei figurinos de um espetáculo de dança junto com uma amiga. Na verdade foi um projeto a seis mãos: eu aceitei a tarefa junto com uma amiga e depois acabei arrastando outra pra ajudar na marra (mas essa terceira pessoa vai ficar pra outra história).
Era coisa amadora, poderia ser tido como nada importante, mas o fato é que era um desafio enorme dentro da micro-sociedade que nos encontrávamos. Tratava-se do show cultural de uma universidade onde nossos maridos estudavam. Era como se estivéssemos dentro de um filme sobre a experência universitária americana. The cool kids, os europeus, precisavam de alguém que idealizasse e produzisse os figurinos de dez casais que iam dançar o can can.
Foram quase dois meses de trabalho, muitos perrengues e arrependimentos, mas o resultado ficou muito, muito bonito.
No dia de estréia os "bailarinos" compraram flores e foram me entregar. Naquele tipo de gesto solene dos artistas de palco, que se reunem e entregam um buquê para a prima donna. Nunca soube direito lidar esse tipo de coisa. Nunca fui estrela, nunca fui bajulada, nunca estive sob os holofotes. Eu fiquei completamente atrapalhada, mas ao mesmo tempo devo confessar que acabei embevecida pela fama. Eram meus 15 minutos. Foto! Foto! Quando dei por mim, estava cercada pela turminha dos populares, todas as câmeras apontadas pra nós, chuvas de elogios e agradecimentos. E eu lá, aceitando os louros da glória sozinha, meio chapada de tanta vaidade.
Algum tempo depois de começada a bajulação do tapete vermelho eu cruzei com o olhar da minha amiga, co-autora da obra, que tinha ficado de fora. Ela estava ali, vendo tudo. Eu senti um misto de vergonha e pesar. Vergonha por ter me esquecido dela, e pesar porque estava muito gostoso ser a estrela única e absoluta. E vergonha de novo por me sentir tão bem com aquela vaidade toda. Logo eu, tão superior a tudo isso, deitando e rolando no meu momento de celebridade.
Me lembro de ter olhado firme pra ela e feito um gesto: vem cá! vem cá!
Mas ela não se abalou por um segundo sequer.
Sorriu, fez que não com a cabeça, me jogou um beijinho e falou:
Vai brilhar, ia. Vai brilhar!
sexta-feira, 9 de março de 2012
I've got style, baby
(and i've got the moves like Jagger)
tem coisas que são tão perfeitas, que a gente tem medo de mudar.
porque por definição o que já é perfeito não pode melhorar.
e se não é possivel melhorar, então qualquer mudança estragaria, certo?
errado.
é possível mudar uma coisa perfeita e ela não estragar.
além de continuar perfeita, fica melhor.
fica ainda mais perfeita.
(tipo um perfectER, sabe?)
ps: quem não entendeu, faz favor de assistir o filme Napoleon Dynamite. pouco interessa se você vai gostar ou não do filme. apenas assista. entenda que não dá pra viver nesse mundo sem ter tido essa experiência.
a cena original tem a música do Jamiroquai. eu troquei por esse som do Maroon 5. e o que já era perfeito ficou mais perfeito ainda.
porque por definição o que já é perfeito não pode melhorar.
e se não é possivel melhorar, então qualquer mudança estragaria, certo?
errado.
é possível mudar uma coisa perfeita e ela não estragar.
além de continuar perfeita, fica melhor.
fica ainda mais perfeita.
(tipo um perfectER, sabe?)
ps: quem não entendeu, faz favor de assistir o filme Napoleon Dynamite. pouco interessa se você vai gostar ou não do filme. apenas assista. entenda que não dá pra viver nesse mundo sem ter tido essa experiência.
a cena original tem a música do Jamiroquai. eu troquei por esse som do Maroon 5. e o que já era perfeito ficou mais perfeito ainda.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
pílula azul x pílula vermelha da matrix
Andaman Islanders 'forced to dance' for tourists
The Jarawa tribe have lived in peace in the Andaman Islands for thousands of years. Now tour companies run safaris through their jungle every day and wealthy tourists pay police to make the women - usually naked - dance for their amusement. This footage, filmed by a tourist, shows Jarawa women being told to dance by an off-camera police officer.
pra mim isso foi cruel, desrespeitoso e humilhante. francamente degradante e deprimente. ponto final.
agora passemos ao próximo pensamento: eu realmente creio que existe a possibilidade de que aquelas mulheres não estejam nem aí pra isso que eu chamo de humilhação e tenham ficado felizes de ganhar comida só chacoalhando o corpo ao invés de ter que ir até o alto da montanha pra catar o que quer que seja pra comer.
veja bem: obviamente isso não justifica nada do que foi feito. jamais!
no mundo ideal seria possível uma interação mais respeitosa entre as culturas e cada ser humano seria valorizado e tratado com a reverência digna do milagre da vida. juro que eu penso mesmo assim.
o fato é que se coloca aí um impasse incrível, visto que o mundo ideal ainda não está em vigor.
como faz quando um povo que está 'em paz' por séculos é 'descoberto' pelo mundo globalizado?
quem é que escolhe se aquele povo deve abrir mão da sua 'paz' pra ter tecnologia, alimentos, remédios, conforto, junto com exploração, perda de valores culturais, competição, lei do capital e tal e coisa?
quem decide o que é respeitoso?
quem decide o que é necessidade humana?
é comida e água limpa ou antibiotico e analgésico?
é chiclete e marlboros ou internet e sapato de couro italiano?
fiquei achando que a escolha que eles tem que fazer é meio parecida com a nossa de todo dia.
claro que não dá pra eles saberem o quanto vai custar a 'assimilação cultural' de antemão, mas quem é que sabe o quanto vai custar conhecer um mundo diferente?
eu estava bem tranquila, na minha paz, dormindo feliz no meu lençolzinho de malha e meu travesseiro de poliester, até que veio alguém e me mostrou a linha de cama de mil fios e um travesseiro de plumas. e agora?
eu tomava nescafé toda manhã e não tinha dor de estômago com a acidez, até que minha amiga me deu uma máquina de nespresso. e agora?
eu fazia meus exames médicos num laboratório qualquer, esperava horas e horas e sofria toda a dor que eles causavam, achando que tudo bem, pois era o preço pra cuidar da minha saúde. até que soube que por uma pequena fortuna você pode fazer tudo rapidinho, num mesmo lugar e sem dor, com anestesia local e alguém segurando sua mão. e agora?
será que a gente já não tá dançando pelado pra turista? e feliz da vida?
The Jarawa tribe have lived in peace in the Andaman Islands for thousands of years. Now tour companies run safaris through their jungle every day and wealthy tourists pay police to make the women - usually naked - dance for their amusement. This footage, filmed by a tourist, shows Jarawa women being told to dance by an off-camera police officer.
pra mim isso foi cruel, desrespeitoso e humilhante. francamente degradante e deprimente. ponto final.
agora passemos ao próximo pensamento: eu realmente creio que existe a possibilidade de que aquelas mulheres não estejam nem aí pra isso que eu chamo de humilhação e tenham ficado felizes de ganhar comida só chacoalhando o corpo ao invés de ter que ir até o alto da montanha pra catar o que quer que seja pra comer.
veja bem: obviamente isso não justifica nada do que foi feito. jamais!
no mundo ideal seria possível uma interação mais respeitosa entre as culturas e cada ser humano seria valorizado e tratado com a reverência digna do milagre da vida. juro que eu penso mesmo assim.
o fato é que se coloca aí um impasse incrível, visto que o mundo ideal ainda não está em vigor.
como faz quando um povo que está 'em paz' por séculos é 'descoberto' pelo mundo globalizado?
quem é que escolhe se aquele povo deve abrir mão da sua 'paz' pra ter tecnologia, alimentos, remédios, conforto, junto com exploração, perda de valores culturais, competição, lei do capital e tal e coisa?
quem decide o que é respeitoso?
quem decide o que é necessidade humana?
é comida e água limpa ou antibiotico e analgésico?
é chiclete e marlboros ou internet e sapato de couro italiano?
fiquei achando que a escolha que eles tem que fazer é meio parecida com a nossa de todo dia.
claro que não dá pra eles saberem o quanto vai custar a 'assimilação cultural' de antemão, mas quem é que sabe o quanto vai custar conhecer um mundo diferente?
eu estava bem tranquila, na minha paz, dormindo feliz no meu lençolzinho de malha e meu travesseiro de poliester, até que veio alguém e me mostrou a linha de cama de mil fios e um travesseiro de plumas. e agora?
eu tomava nescafé toda manhã e não tinha dor de estômago com a acidez, até que minha amiga me deu uma máquina de nespresso. e agora?
eu fazia meus exames médicos num laboratório qualquer, esperava horas e horas e sofria toda a dor que eles causavam, achando que tudo bem, pois era o preço pra cuidar da minha saúde. até que soube que por uma pequena fortuna você pode fazer tudo rapidinho, num mesmo lugar e sem dor, com anestesia local e alguém segurando sua mão. e agora?
será que a gente já não tá dançando pelado pra turista? e feliz da vida?
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Lá vai Maria
ela andava na beira da estrada, elegante.
então, igual.
só que sem salto alto, só de chinelas.
e não um livro. um tabuleiro redondo de madeira escura.
ele servia de base pra uma coleção de frutas, panelas e outros utensílios. tudo parcamente enrolado em panos desbotados em forma de trouxa.
uma criança descalça segurava uma de suas mãos enquanto saltitava pra acompanhar seus passos rápidos. a outra mão envolvia o corpinho de uma criança mais nova, esta com as pernas em tesoura, sentada no quadril da mãe.
fiquei pensando que um grande marcador de civilização é quando as mulheres de um povo perdem essas habilidades. a de carregar matulas na cabeça e a de criar uma filharada pro mundo.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
ou não.
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