sábado, 17 de março de 2012

sobre pecados secretos e virtudes

Esta é uma história sobre a virtude da generosidade. E é também uma confissão.

Uma vez eu costurei figurinos de um espetáculo de dança junto com uma amiga. Na verdade foi um projeto a seis mãos: eu aceitei a tarefa junto com uma amiga e depois acabei arrastando outra pra ajudar na marra (mas essa terceira pessoa vai ficar pra outra história).

Era coisa amadora, poderia ser tido como nada importante, mas o fato é que era um desafio enorme dentro da micro-sociedade que nos encontrávamos. Tratava-se do show cultural de uma universidade  onde nossos maridos estudavam. Era como se estivéssemos dentro de um filme sobre a experência universitária americana. The cool kids, os europeus, precisavam de alguém que idealizasse e produzisse os figurinos de dez casais que iam dançar o can can.

Foram quase dois meses de trabalho, muitos perrengues e arrependimentos, mas o resultado ficou muito, muito bonito.
No dia de estréia os "bailarinos" compraram flores e foram me entregar. Naquele tipo de gesto solene dos artistas de palco, que se reunem e entregam um buquê para a prima donna. Nunca soube direito lidar esse tipo de coisa. Nunca fui estrela, nunca fui bajulada, nunca estive sob os holofotes. Eu fiquei completamente atrapalhada, mas ao mesmo tempo devo confessar que acabei embevecida pela fama. Eram meus 15 minutos. Foto! Foto! Quando dei por mim, estava cercada pela turminha dos populares, todas as câmeras apontadas pra nós, chuvas de elogios e agradecimentos. E eu lá, aceitando os louros da glória sozinha, meio chapada de tanta vaidade.

Algum tempo depois de começada a bajulação do tapete vermelho eu cruzei com o olhar da minha amiga, co-autora da obra, que tinha ficado de fora. Ela estava ali, vendo tudo. Eu senti um misto de vergonha e pesar. Vergonha por ter me esquecido dela, e pesar porque estava muito gostoso ser a estrela única e absoluta. E vergonha de novo por me sentir tão bem com aquela vaidade toda. Logo eu, tão superior a tudo isso, deitando e rolando no meu momento de celebridade.

Me lembro de ter olhado firme pra ela e feito um gesto: vem cá! vem cá!
Mas ela não se abalou por um segundo sequer.
Sorriu, fez que não com a cabeça, me jogou um beijinho e falou:
Vai brilhar, ia. Vai brilhar!

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